domingo, 8 de junho de 2008

Um grande projeto em pequenos passos



Depois de uma temporada de miséria e frustração do Tottenham na Premier League, o torcedor pôde ganhar ânimo para quebrar a sonolência do fim de temporada com o início do ciclo de contratações. A primeira e mais importante delas foi a de Luka Modric, jogador-sensação da Europa visado por uma penca de clubes, que virá para ser o cerébro do time e solucionar o problema da falta de consistência do setor criativo. Além do meia croata, a promessa mexicana Giovanni dos Santos trocou o Barcelona pelo Tottenham, visando adicionar muita velocidade e qualidade ao lado esquerdo da equipe, sendo o canhoto que há muito vínhamos exigindo.

Essa postura mostra uma mudança na conduta dos Spurs. Nos últimos anos éramos conhecidos por contratações duvidosas por valores relativamente elevados. Ao invés de buscarmos jogadores com uma maior reputação, preferíamos investir em "talentos" desconhecidos como Kaboul, Boateng e Zokora. Modric e Giovanni, apesar de não serem duas estrelas consolidadas no cenário europeu, são apostas bem menos arriscadas devido à qualidade já apresentada e ao potencial creditado aos atletas, o que já lhes garante um respeitável respaldo internacional.

No entanto, as especulações fizeram o torcedor do Tottenham sonhar mais alto. A imprensa tem tratado de ligar o clube a uma enormidade de jogadores, o que fez o surgimento de rumores envolvendo grandes astros como Eto'o e Ronaldinho. Certamente seriam grandes contratações, entretanto, ferem um projeto desenvolvido pela atual diretoria do clube. A construção da equipe vem se realizando de maneira moderada: ano após ano aumentam os investimentos, buscando melhorar o elenco e a qualidade técnica da equipe. Essa temporada inclusive foi marcada pela chegada daquele que, ao meu ver, será o grande arquiteto da ascenção definitiva do Tottenham, o técnico espanhol Juande Ramos. Estaria então o Tottenham preparado para atingir um novo nível e começar a investir pesado em jogadores desse calibre?

Olhando a nossa situação atual, especialmente sob o aspecto financeiro, acredito que não. Apesar de sermos um dos times da Inglaterra que mais gasta em contratações, nossa folha salarial ainda é modesta em relação aos 4 grandes da Liga. Uma contratação desse tipo acarretaria numa insatisfação de outros atletas do elenco, decorrente da grande diferença salarial que seria observada entre eles. Isso ocasionaria um aumento indireto na folha de salários, visto que os jogadores do atual elenco exigiriam salários maiores na renovação de seus contratos.

Na própria Inglaterra temos alguns exemplos que atestam meu argumento. O Newcastle paga hoje salários altíssimos a jogadores como Owen e Duff, que são pouco aproveitados devido a contusões, sendo um peso morto no orçamento do clube. O Chelsea, apesar de toda a pompa, se encaminha para um buraco. O clube sofre déficits anuais grandes, além de já possuir uma dívida enorme. Os altos salários pagos na era Abramovich agravaram essa situação, posto que o aumento na folha salarial foi tanto que jogadores como Shaun Wright-Phillips, um mero reserva, ganham mais que atletas como Robbie Keane, Berbatov, Woodgate, todos considerados jogadores essenciais ao nosso time. Caso o Abramovich se canse da sua brincadeira no futebol inglês, o Chelsea poderá seguir o caminho do escocês Gretna, clube que entrou em concordata após a saída de seu principal investidor e provavelmente será liquidado, deixando sua torcida desamparada.

Um grande investimento deve ser feito com muita cautela e ponderação. Apesar dos erros da última temporada, penso que a diretoria Tottenham tem realizado um bom trabalho na condução do clube, procedendo de uma maneira coerente ao seu ambicioso projeto de colocar os Spurs novamente como um clube de ponta no cenário inglês, quebrando o monopólio do "Top 4". Não precisamos ser apressados para conquistar nosso objetivo, até porque acredito que estamos na iminência de conquistar a tão sonhada vaga pra Champions League. Não podemos investir num sucesso fugaz em detrimento de uma continuidade sólida.